Dia 15 – BAR DO GIBA

           

 

            A cerveja mais gelada e o pernil mais delicioso de São Paulo.

            Com essas palavras, nossos novos amigos despertaram nossa curiosidade.

            Foi em Monte Verde que nos conhecemos, mas descobrimos que somos praticamente vizinhos. Dois casais agradabilíssimos e divertidos que moram no mesmo prédio e a apenas a algumas quadras do nosso apartamento.

            — É um boteco, nada chique, nada de mais. Mas a cerveja vem estupidamente gelada e o pernil é imperdível. 

            O tão famoso pernil só é feito às quintas-feiras e apenas uma vez. Se você chegar tarde, pode não conseguir mais saborear tão famoso prato.

            A ideia era irmos todos juntos para que eles nos apresentassem ao bar do qual eram frequentadores assíduos. Porém, como São Paulo é uma cidade de desencontros, decidimos não aguardar por um encontro que poderia demorar meses ou até mesmo anos para acontecer.

            Assim, embarcamos na aventura sozinhos.

            A rua Moaci, onde o bar fica localizado, é repleta de outros estabelecimentos. Opções é que não faltam. Bares maiores, bares com TVs sintonizadas no jogo de futebol da vez, pequenos restaurantes, cafés, uma festa de aromas e sabores.

            O Bar do Giba é um boteco simpático, com cara de boteco. Mesas de boteco, copos de boteco, um lugar que não agradaria aos connaisseurs de nariz empinado. É um bar para quem gosta de curtir a simplicidade e a nostalgia. Sem frescura, sem pompas.

            Uma placa logo me chamou a atenção: O bar é onde dividimos cerveja e compartilhamos história. Já gostei.

            O rapaz que nos atendeu, Moisés, avisou que o pernil ficaria pronto às 19h30 e perguntou se gostaríamos de alguma entrada para acompanhar a cerveja ultra gelada que, obviamente, pedimos assim que nos acomodamos em uma das mesas da parte de dentro.  Pedimos um bolinho de bacalhau e um de feijoada.

            A cerveja parecia ter chegado naquele momento do Alasca. Descia tão facilmente que logo tivemos que pedir mais uma. Os bolinhos estavam saborosos, mas o ponto alto foi mesmo a pimenta. Já comentei como adoro uma boa pimenta, não é mesmo? Aquela tinha sido feita no dia anterior e já estava picante como eu gosto. Uma simples gotinha nos bolinhos e eles ficaram irresistíveis. Crocantes por fora, macios por dentro e escondendo o sabor que só era revelado a cada mordida.

            Devo confessar que adoro comida de boteco. É comida reconfortante, que lembra uma vida menos complicada, mas aconchegante, calorosa, como os encontros da minha família, de ascendência libanesa. Fartura, gordura, o corpo cheinho, tudo o que devemos evitar, mas que aquece nosso coração.

            Sim, precisamos cuidar da saúde e a alimentação é a base da saúde tanto física quanto mental. Mas às vezes precisamos da comida errada, aquela que nos esquenta, que nos coloca no colo, que nos diz para aproveitar a vida pois ela é curta. A alimentação correta é fria, é sisuda, é rígida. Ela é a mãe que educa, que quer nosso bem, que nos coloca no caminho certo. Mas às vezes precisamos da avó com seus mimos descompromissados, afeto irresponsável, pois já não têm mais o fardo de educar, somente amar.

            Portanto, essa foi a noite que passei com minha avó. Mentira. Essa avó nunca existiu. Minha mãe é que além de mãe, também era a nossa avó. Ela nos educou, sim, mas com brandura, com mimos, com uma alegria infinita, com um amor daquela mãe que sempre desejou ser mãe e que seria mãe mil vezes se pudesse.

            E enquanto escrevo essas linhas, não posso deixar de pensar que hoje seria o dia dela. Parabéns, mãe tão maravilhosa.

            Voltando ao Bar do Giba, finalmente chegou o pernil. Um prato imenso que conquistou minha visão e meu olfato. Certamente conquistaria meu paladar.

            O Chefe, eu presumo, com aquele prato divino na mão, passava de mesa em mesa perguntando quem iria querer a iguaria. Ufa, eu já estava pensando que tudo aquilo seria somente para nós dois.

Em seguida, o homem voltou para a cozinha e alguns minutos depois trouxe o pernil já cortado em finas fatias e envolto em um molho espetacular. Para acompanhar, uma cesta de pães franceses fresquinhos.

            Não, nada chique. Boteco. Mas quem precisa do chique, quando o sabor tem glamour? Quando cada bocado derrete na boca e todos os ingredientes se combinam na medida certa causando uma explosão divina nas papilas gustativas?

            Sim, nada chique, mas que glamour!

            Melhor do que o Bar do Giba, só o Bar do Giba com nossos novos amigos. Portanto, teremos que voltar.

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