Dia 2 – Cantón
Chuva fina e persistente, digna da cidade de São Paulo. Felizmente a temperatura baixou e, embora sair debaixo de chuva também não seja muito agradável, pelo menos não corremos o risco de pegar insolação.
Protegidos por uma sombrinha espaçosa, caminhamos de braços dados, fugindo das poças e apreciando as ruas tranquilas de Moema. Os pingos da garoa batucavam no guarda-chuva melodicamente, tornando a caminhada tranquila e agradável, apesar do céu convidativo para um dia dentro de casa.
O restaurante fica ao lado de uma padaria, o que nos pareceu, a princípio, um pouco esquisito. Porém, assim que entramos já fomos seduzidos pelo ambiente exótico e decoração oriental. No teto, um enorme dragão pendia sobre a nossa cabeça e diversas lanternas chinesas coloridas nos remetiam à Ásia.
A gastronomia, porém, combinava os sabores da China com o Peru. Sim, um restaurante Chino-peruano ou, como anunciava uma placa, Chifa, um trocadilho interessante sobre o famoso arroz peruano, Chaufa, com os deliciosos alimentos chineses.
A garçonete que nos atendeu era venezuelana. Morara três anos no Peru e viera agora para o Brasil.
Comecei a falar no meu horrível castelhano, mas então me lembrei que os estrangeiros consideram isso uma falta de educação, pois eles querem aprender nosso idioma e não escutar um assassinato do idioma deles.
Eu achava que era simpático falar com o estrangeiro na língua dele, mas quando me lembro de todas as vezes em que queria aperfeiçoar meu inglês ou francês e não conseguia, justamente pela simpatia dos americanos, ingleses ou franceses que insistiam em conversar comigo em castelhano, consigo entender por que nossa boa vontade se transformou em descortesia.
Claro que, em nossa defesa, tentamos conversar com o estrangeiro no idioma dele e não em outro idioma “parecido”, como fazem conosco. Tudo bem, vou dar um desconto porque eles acham que no Brasil se fala espanhol e que nossa capital é Buenos Aires. Pensando bem, não vou dar desconto nenhum. Como já dizia Assis Valente,” chegou a hora dessa gente bronzeada mostrar seu valor”. Somos conhecidos mundialmente como o país do futebol. Está na hora de sermos conhecidos também como o único país na América do Sul a falar português, com uma capital no formato de um avião, Brasília, com as mais lindas cataratas do mundo, com nossa Carmem Miranda, estrela de Hollywood, com nossa cidade vedete de diversos filmes, Rio de Janeiro, e com nossa São Paulo que é uma das maiores cidades do mundo. Ah, meu Brasil brasileiro.
Mas eu estou desconversando. Pedi à gentil garçonete, em português, um gato da sorte e meu marido, uma cerveja peruana. Embora o gato da sorte venha em um lindo gato preto chinês, a bebida é feita com o pisco peruano. Deliciosa, por sinal.
Meu prato foi um polvo, provavelmente chinês, e meu marido pediu uma Chaufa clássica, obviamente peruana.
No final da refeição os tradicionais bolinhos da sorte que deveriam mudar seu nome para bolinhos autoajuda e videntes. Na frente, uma mensagem óbvia e, atrás, números que supostamente devem ser jogados na Megasena.
No entanto, independentemente do nome, são deliciosos e divertidos.
Antes de sair, um simpático garçom se prontificou a tirar nossa foto abaixo da cabeça do dragão, uma tradição nesse restaurante. A foto ficou realmente linda.
Voltamos debaixo da mesma chuva fina, um pouco mais pesados, sonolentos, mas tremendamente satisfeitos.
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