Dia 3 – Fuego Celeste
Clima quente, muito quente. Meu coração frio. Poodle preto, fêmea, problema renal. Foram 16 anos de amor incondicional, anjo na terra, perda irreparável. Mas a morte chega para todos, anjos ou humanos. E, como sempre, nos traz a mesma batida reflexão: vamos aproveitar a vida, porque nunca se sabe.
Com muita tristeza, mas seguidos por esse raciocínio em uma tentativa de nos consolar, fomos para a Parrillada Fuego Celeste.
Mais uma vez, em Moema. Mais uma vez caminhamos até o nosso destino.
A moça que nos recebeu e nos levou até a mesa não foi particularmente simpática nem antipática. Apenas eficiente. Mas nossa garçonete, a Jacki, era realmente um amor. Cabelos caramelados emoldurando seu rosto dourado, trazia um sorriso e uma leveza desde a entrega dos cardápios até a chegada da conta.
Para começar, já pedimos um litro da cerveja uruguaia recomendada. Além do calor sufocante, precisávamos de um anestésico para a nossa dor. Tudo para calar, ou ao menos, adiar aquele desconforto que chega aos olhos e se converte em água.
Eu não ligo de chorar em público, mas sei que fico com uma aparência ridícula, além de desagradar aos bons costumes e àqueles que abominam uma cena. Fora não poder explicar tanto sofrimento por um animal. Mesmo quem ama os bichinhos de paixão, nem sempre consegue entender.
E não, nunca tratei minha cadelinha como filha. Amava demais, mas, na minha opinião, tratar um animal como se fosse humano é desumano para os bichinhos e reflete um vazio de amores em nossa vida. Seja familiar, seja de amigos, seja de amantes.
Amava muito minha cadelinha, mas ela era uma cadelinha.
Dito isso, a dor era grande, sim, e nem sempre as pessoas entendem tamanho sofrimento por um animal de estimação. Assim, queria evitar ao máximo que as lágrimas rolassem pela minha face.
Portanto, cerveza!
Eu pedi assado de tira e meu marido, ancho. De acompanhamento, uma batata assada com dois tipos de molho.
O restaurante era simples e aconchegante, mas os pratos eram fantásticos. A carne no ponto perfeito trazia um sabor indescritível e a batata, somada ao delicioso molho, brincava com minhas papilas gustativas, ora sobressaindo um paladar, ora outro.
Lembrei que a morte de um animal leva vida para outro e isso gera um novo significado para a morte. Nossa morte também servirá de alimento para outros seres e, assim, a vida se perpetua. A morte daqueles animais não foi em vão. A vida deles não foi em vão.
A vida da minha cadelinha não foi em vão. E espero que a minha também não seja.
Para finalizar, a cerveja calou a dor, mas impediu que experimentássemos a sobremesa. Teremos que voltar, pois parecia imperdível.
Comentários
Postar um comentário