Dia 12 – SAKEUMI
Com viagem marcada para o Japão, era só disso que falávamos. Comecei a aprender algumas palavras básicas japonesas, líamos regras de etiqueta, tentávamos fazer uma verdadeira imersão naquela cultura tão diferente e fascinante.
Assim, quando o próximo restaurante escolhido foi um japonês, fiquei bastante entusiasmada. Adoro comida japonesa, mas dessa vez meus sentidos estavam mais aguçados, minha expectativa pulsando freneticamente.
O restaurante, com uma entrada simpática e despretensiosa, era pequeno e extremamente acolhedor. De cara já me apaixonei pelo mimo da decoração e da arrumação das mesas.
Primeira regra: nunca fale alto.
Isso, para mim, é praticamente impossível quando estou agindo naturalmente. Vou precisar me policiar o tempo todo em que estiver no Japão.
Já entrei no restaurante elogiando, com minha voz potente, as lindas mesinhas e escolhendo uma pequena, no canto, perto da janela envidraçada de alto a baixo.
O gentil e sorridente garçom, Alexandro (ou seria Alecsandro? Não perguntei.), nos atendeu com muito bom humor, paciência e cordialidade.
Em cada mesa havia uma garrafa de vinho tinto, mas por ser um restaurante japonês, preferimos pedir saquê.
Segunda regra: NUNCA diga Tim-Tim na hora de brindar. Em japonês é uma palavra que não pegaria bem nessas situações. Assim, estamos treinando falar sempre Kampai, que é o equivalente a Saúde, Prost, Santé.
Terceira regra: traga os pratos para perto da boca, nunca o contrário. Acredito ser o mesmo com os copos. Mas olhando para o meu saquê, transbordando para o pires, como levar o Massu até minha boca sem fazer o maior estrago na toalha? Obviamente a mesa ficou razoavelmente molhada.
Poderíamos escolher entre o rodízio ou a la carte. Como eu adoro a culinária japonesa, escolhi o rodízio. Meu marido não é muito fã, portanto pediu um Yakisoba de camarão.
Quarta regra: nunca pegar o alimento da travessa e levá-lo diretamente à boca.
É preciso levar o alimento ao próprio prato e somente depois colocá-lo na boca.
Tentamos já seguir o protocolo do Japão, mesmo estando no Brasil, mas obviamente nem sempre nos lembrávamos dele, pegando sushis ou camarões com os hashis e comendo-os imediatamente sem fazer a escala necessária.
Regra universal: se você pede o rodízio e a outra pessoa, não, ela não deve comer do que for servido a você.
Alecsandro me serviu com maravilhosos shimejis na chapa, pepinos com aquele sabor irresistível do doce e azedo, bem como carpaccios variados e niguiris convidativos. Ainda viriam muitos outros pratos, inclusive sashimis, temakis, ceviches e missoshiru. Assim, sabia que os shimejis e pepinos não seriam mais consumidos. Ora, meu marido adora tanto um quanto o outro, e o prato dele ainda não havia chegado.
— Alexandro – chamei.
— Sim, pois não?
— Será que meu marido poderia provar o shimeji e o pepino? Não vou pedir para repetir esses pratos e juro que são as únicas coisas de que ele gosta do meu rodízio – brinquei.
Alecsandro nem piscou.
— Mas é claro. Ele pode sim. Olha, tem gente que vem aqui, um pede o rodízio, o outro pede só uma entradinha e quando eu olho eles estão dividindo os pratos. Vocês tiveram a delicadeza de me perguntar. Além do mais, o prato dele demora um pouco, porque é mais complexo, então ele pode comer, sim.
Ótimo. Além de poder experimentar aquelas delícias, meu marido me fez companhia enquanto eu me deliciava com as outras iguarias que não paravam de chegar à minha frente.
Quando o Yakisoba chegou, enorme, deslumbrante, soberano, percebemos que não havia motivos para nos preocuparmos com a quebra do protocolo. A não ser que fôssemos lutadores de Sumô para conseguir comer tudo aquilo e ainda o rodízio.
Pratos caprichados e deliciosos. Saquê que percorria seu caminho pela boca com suavidade. Cores, aromas, sabores mil. Atendimento de primeira. Nada poderia estragar esse jantar.
Quinta e última regra: procure comer tudo o que está no prato. Impossível, mas foi a regra que mais me seduziu até agora. Uma regra que, certamente no Japão, não terei problema nenhum em seguir.
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