Dia 6 – Selvagem
Janeiro. Natal já havia passado, mas o Parque do Ibirapuera ainda exibia uma linda árvore rosada e seu famoso show das águas dançantes.
A expectativa de ver a dança aquática ao som de músicas natalinas somada à curiosidade de conhecer o famoso restaurante Selvagem, levou-nos a uma noite de gastronomia e espetáculo.
O restaurante fica escondido em meio à pista de corrida de 1,5 km. É uma pista sinuosa, de pedras, encoberta de árvores. Foi justamente fazendo esse percurso, em um fim de semana qualquer, que me deparei com o lindo estabelecimento rodeado pela natureza, passando a sensação de um refúgio na floresta.
Por fora, o restaurante é exótico. Por dentro, encantador.
A comida, bem tipicamente brasileira, estava realmente deliciosa. Até mesmo o peixe do dia, que normalmente é um prato coringa que nunca se sabe se irá agradar. Esse agradou.
As iguarias eram caríssimas, mas de qualidade, aquecendo o coração, os olhos e o paladar.
Como não pedimos entrada nem sobremesa, pois os pratos eram individuais e muito bem servidos, o garçom não pareceu nos aprovar quando pedimos a conta.
Confesso que me senti um pouco constrangida pela desaprovação do moço. Era como se ele dissesse que não pertencíamos àquele lugar. Ou o homem estava passando por algum problema qualquer que não tinha a ver comigo, mas eu projetei minha própria rejeição em seu semblante? Acredito que nunca saberei.
É fato que o que nos fazem não importa tanto quanto o que pensamos sobre o que nos fazem. Por que nos incomodamos tanto com a aprovação de pessoas que nem fazem parte de nossa vida? Por que a opinião de pessoas que nunca mais veremos nos importa tanto?
Lembro-me de uma situação real ou fictícia, não sei dizer, em que uma mulher humilha o homem que está com ela por alguma gafe que ele havia cometido no restaurante, na frente do garçom. Ela ficou tão envergonhada com a opinião de um homem que não fazia absolutamente parte de sua vida que magoou o homem que ela amava.
Você não pertence a este lugar.
Ah, quantas vezes não li esta frase estampada na cara de recepcionistas, garçons, vendedores?
Não podemos mudar a forma de como alguém nos olha, nos vê, nos avalia. Não podemos controlar o que os outros pensam de nós, o que os outros sentem por nós. Mas podemos controlar o que sentimos em resposta ao que os outros pensam ou sentem a nosso respeito. Isso é maturidade. Isso é inteligência. Isso é liberdade.
Assim, ignorei a cara de desaprovação do garçom e, junto ao meu marido, fomos ver o lindo espetáculo que o parque do Ibirapuera proporcionava.
Então, como se tudo voltasse a fazer sentido, olhei para as pessoas à minha volta. Homens, mulheres, adultos, crianças, ricos, pobres. Diversas cores, diversas etnias, diversos status. Não havia distinção naquela plateia que saboreava o lindo show das águas dançantes inteiramente grátis.
Foi lindo. Meu coração aquecido pelo delicioso jantar, derreteu-se pela simplicidade de saber que ali, sim, era um lugar a que eu pertencia.
O Selvagem foi uma experiência incrível, não só pelo prazer gastronômico, mas por me ensinar, mais uma vez, os verdadeiros valores da vida.
Comer bem é um luxo. Pagar caro é um luxo. Saber que existem lugares sem discriminação, onde qualquer um pode aproveitar, independentemente de sua condição social, é mais do que um luxo. É imprescindível.
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