Dia 7 – Gajos
No dia anterior a uma cirurgia, fomos jantar no Gajos, um restaurante, obviamente português, muito charmoso no bairro de Moema.
Eu não podia beber, por causa da intervenção, e meu marido, por estar dirigindo. Claro que eu poderia dirigir para que ele pudesse tomar um cálice de vinho, ao menos, mas acredito que ele estava sendo solidário a mim. Ou não confiava na minha direção.
Escolhemos os pratos principais e não íamos pedir entrada, mas o garçom nos convenceu a experimentar os bolinhos de bacalhau.
— Vocês não vão se arrepender.
E ele tinha razão. Os bolinhos estavam incríveis, despertando nosso paladar para o prato principal, que também era bacalhau, dessa vez com natas. Delicioso, não nos decepcionou.
Na mesa ao lado, uma família simpática parecia estar se divertindo muito. Pai, mãe, filho e filha, eu imagino. O rapaz jogava algum passatempo no celular e de vez em quando gritava. O pai, então, pedia silêncio a ele, de forma delicada, porém firme. O filho não era uma criança, ao menos fisicamente.
Lembrei-me que li, em alguma rede social, a postagem de uma mulher dizendo que restaurante fino não deveria aceitar crianças, pois as pessoas querem comer sossegadas, sem barulhos ou bagunça. Ora, o que fazer, então, nesses casos? Casos em que os adultos têm necessidades especiais? Casos em que os adultos têm a alma e a pureza de criança? Segundo essa mulher, deveriam, também, ser proibidos em restaurantes “finos”?
No meu caso, os gritos esporádicos do rapaz não me incomodaram em nada. Ele estava se divertindo e a família também. Barulhos e bagunças não me incomodam. Falta de alegria e de amor, sim.
Voltando ao jantar, ou melhor, ao fim do jantar, ficamos em dúvida sobre a sobremesa. Pedimos uma ou duas? Nossos olhos gulosos não queriam se decidir entre nenhuma delas.
Nesse momento, um senhor bastante simpático e, obviamente, português, sugeriu:
— Peçam uma e, se quiserem, depois peçam a outra, pois.
Sugestão bastante sábia. Pedimos a baba de camelo e foi o suficiente. Fechamos com chave de ouro.
— E agora um cafezinho? – Perguntou o português.
— Não, obrigada – respondi. — Se eu tomar café agora, não consigo dormir.
O senhor, então, contou-nos sua triste história com relação à depressão. Sofria desse mal há anos e tomava seus remédios sempre à noite. O lado bom? Dormia como um bebê. Nada de insônia.
Ainda conversamos um pouco mais, não muito, mas o suficiente para que eu queira voltar e aprender mais com esse senhor incrível e amável. Com certeza, ele tem muito a me ensinar.
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